terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


NANOTECNOLOGIA
Foto de Cuca Jorge do miscroscópio LNLS, que analisa propriedades eletrônicas de materiais

Minúsculas partículas, grandes negócios

José Paulo Sant´Anna

A palavra nanociência leva as pessoas a pensarem em um futuro distante. Não são poucos os que a associam ao mundo dos filmes de ficção científica. A impressão não vem por acaso. Não são poucos os que a associam ao mundo dos filmes de ficção científica, no qual naves espaciais sobrevoam cidades e extraterrestres convivem com humanos em bares e restaurantes. Afinal, o nome da nova ciência sempre é acompanhado de comentários sobre o aparecimento de produtos difíceis de serem imaginados.

Mas engana-se quem pensa que estamos falando apenas sobre o futuro. Hoje há dezenas de aplicações de materiais dotados com partículas nanoestruturadas presentes em produtos dos mais variados segmentos econômicos. Entre os usuários atuais dos benefícios proporcionados pela nova ciência podemos citar as indústrias de plásticos, tintas, borrachas, eletrônica, farmacêutica, automobilística, têxtil e de cosméticos.

A revolução está apenas no início. Os principais cientistas do mundo garantem que nos próximos anos a presença de produtos com a presença de nanoparticulados crescerá de forma exponencial em itens fabricados pelos mais variados segmentos econômicos. Estima-se que dentro de uma década a comercialização de tais produtos deve atingir a casa de US$ 1 trilhão.

Esse valor não assusta quem acompanha os crescentes investimentos feitos na área de pesquisa e desenvolvimento. De acordo com dados fornecidos por Henrique Toma, professor titular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, e autor do livro “O mundo nanométrico: a dimensão do novo século”, levando-se em conta apenas os recursos oriundos das esferas estatais, as verbas cresceram mundialmente de US$ 400 milhões em 1997 para US$ 4 bilhões em 2004. 
Somando-se os investimentos feitos pela iniciativa privada, estima-se que esse número, em 2005, deve ficar próximo da casa dos US$ 70 bilhões. E a tendência para os próximos anos é de um salto nesses valores. Vale ressaltar que parcela considerável desses recursos está sendo empregada pelos gigantes da indústria química, principal protagonista da evolução dessa ciência.

O Brasil, embora com verbas modestas, não está fora da nova onda tecnológica. Desde 2001 quatro redes de estudo, coordenadas pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e que envolvem 70 institutos de ensino e pesquisa, trabalham em várias frentes e já conseguiram resultados significativos. Esses estudos devem ganhar novo impulso. O governo lançou, no final de agosto, um plano de estímulo ao setor que prevê a aplicação de uma verba de R$ 71 milhões no biênio 2004/5, número que supera em larga escala o investido em anos anteriores. Além disso, várias pesquisas são patrocinadas por empresas privadas.

O que é isso? – A nanociência é o estudo e manipulação dos materiais quando reduzidos a partículas cujos tamanhos encontram-se na casa do nanômetro ou milionésimo do milímetro – número cem mil vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo. Como um átomo, em média, mede de 0,2 a 0,4 nanômetro, uma outra definição pode ser dada para a ciência. Trata-se da capacidade de manipular átomos e moléculas de forma a dar aos materiais propriedades diferentes das que eles apresentam em seu estado natural.

Para que a nanociência seja melhor compreendida, Toma exemplifica de que forma diferentes estruturas moleculares podem alterar as características de uma substância. Ele cita o caso da concha do mar e do giz. “Os dois são feitos de carbonato de cálcio, mas a concha tem uma estrutura molecular diferente e é 30 mil vezes mais dura do que o giz. Se o homem conseguir manipular as moléculas de carbonato de cálcio pode obter um giz muito mais resistente do que os existentes hoje”, resume.

A idéia de manipular as estruturas atômicas e moleculares não é nova, mas no passado parecia um sonho inatingível. No final dos anos 50, Richard Feynman, vencedor do prêmio Nobel de Física de 1965, fez uma palestra onde pela primeira vez alguém do meio acadêmico mencionou essa possibilidade. Feynman disse que o homem não precisa aceitar os materiais provenientes da natureza como os únicos possíveis no universo, aventando a hipótese de adaptá-los de acordo com as necessidades dos seres humanos.

Dos anos 80 para cá, quando surgiram os primeiros microscópios eletrônicos com capacidades de ampliação impressionantes e as nanopartículas começaram a ser produzidas em laboratórios a partir de processos químicos, em especial a síntese de materiais, a profecia do cientista começou a fazer parte do mundo real. Nas últimas duas décadas o avanço nesse campo foi espantoso. Entrou em campo a nanotecnologia, a transformação dos estudos realizados em universidades e institutos científicos em práticas industriais.

Vedete – Entre as partículas nanométricas produzidas em laboratórios, o nanotubo de carbono ocupa o papel de grande vedete. Ele nada mais é do que uma folha de grafite de carbono enrolada, com diâmetro médio de um nanômetro. “Conforme essas folhas são enroladas e agrupadas, elas apresentam características excepcionais para as mais diversas aplicações”, explica Marcos Pimenta, professor titular do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor do Instituto do Milênio, pólo de excelência de tecnologia ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O instituto reúne 64 pesquisadores especializados em nanociência.

De acordo com o professor, em termos mecânicos, eles são vinte vezes mais resistentes e seis vezes mais leves que o aço.

Além disso contam com extraordinárias propriedades físico-químicas, térmicas, estruturais, óticas e elétricas. Essas qualidades já chamaram a atenção da indústria dos mais variados segmentos, que deve adotar a curto prazo os nanotubos em algumas aplicações. Por suas características mecânicas, por exemplo, eles são vistos como ótima opção para serem utilizados em compósitos de plásticos, borrachas, cerâmicas ou tecidos muito resistentes.

Inúmeras outras possibilidades são alvos de estudos. Algumas soam em nossos ouvidos como brincadeiras, mas de uma hora para outra podem se transformar em realidade. “Há o interesse de se desenvolver pesquisas voltadas para adicionar nanotubos de carbono nas amoras que servem de alimento para o bicho da seda. A meta é aumentar de forma extraordinária a resistência dos tecidos produzidos pelos bichinhos”, conta Toma.

Pimenta fala um pouco sobre os trabalhos realizados no Brasil pelo Instituto do Milênio e por instituições de ensino e pesquisa envolvidos com o estudo dos nanotubos de carbono. “Nosso primeiro desafio é produzi-los em escala laboratorial, depois em escala industrial”, informa. Para tanto, estão sendo realizados estudos sobre vários métodos de síntese do carbono. “É muito importante conseguirmos fabricar os nanotubos no Brasil. Hoje, uma grama do nanotubo puro custa US$ 500 e, mesmo assim, é difícil obtê-lo. Tentamos importá-lo dos Estados Unidos mas eles se recusam a vender o produto a outros países, o classificam como estratégicos”, esclarece o professor.

Outra prioridade dos cientistas brasileiros ligados ao tema é analisar formas de purificação dos nanotubos. Os mais cotados são compósitos de polímeros, cerâmicas, vidros e tecidos e o desenvolvimento de dispositivos emissores de elétrons, sensores de gases e transistores.

Materiais – Além dos nanotubos de carbono, muitos outros materiais são avaliados e, em alguns casos, utilizados para aplicações distintas. No campo dos plásticos e borrachas, por exemplo, os pesquisadores voltam-se para o desenvolvimento de nanocompósitos, matérias-primas que misturam os polímeros tradicionais com nanopartículas de substâncias especialmente produzidas de acordo com as especificações desejadas pela indústria.

Entre os plásticos, algumas fórmulas com essas características já se encontram disponíveis no mercado. A Basell Poliolefins comercializa uma para confeccionar peças presentes em automóveis da General Motors. A Lanxess, subsidiária da Bayer voltada para a produção de resinas plásticas, fornece um filme voltado para o mercado de embalagens. Nos dois casos, os polímeros são enriquecidos com nanopartículas de argila modificada. Entre as borrachas, um uso já em prática há alguns meses está presente nos chamados “pneus verdes”, cuja durabilidade é muito maior do que os pneus convencionais graças à presença na matéria-prima de nanopartículas especialmente desenvolvidas.

A nanotecnologia também faz diferença quando o assunto é o desenvolvimento das chamadas cerâmicas avançadas.

Conforme a sua composição, elas contam com características que as credenciam para funções as mais diversas, tornando-se úteis para diferentes segmentos da economia.

Entre as propriedades dessas cerâmicas encontram-se, por exemplo, a elevada resistência mecânica, a possibilidade de agüentar temperaturas altíssimas e o fato de não serem atacadas pela corrosão. Tais características estão fazendo com que elas substituam metais, polímeros e outros materiais em dezenas de operações.

Cuca Jorge

Toma: Investimentos vem se multiplicado nos últimos anos

Muitas outras novidades com enorme potencial econômico devem chegar ao mercado em breve. “A partir da observação da impermeabilidade das folhas, os cientistas estão concluindo estudos de desenvolvimento de nanopartículas voltadas para o revestimento de vários materiais”, explica Toma. Dessa forma, por exemplo, não demora a chegar ao mercado vidros que repelem água e sujeira. “Em breve, os automóveis não precisarão mais de limpadores de pára-brisas”, informa o professor da USP. O mesmo princípio pode ser aplicado em tecidos, polímeros ou em aplicações bastante curiosas. “Pode ser feita uma colher onde o mel escorra sem enfrentar qualquer resistência”, diz Toma.

No setor de tintas, a nanotecnologia também promete muitas novidades. Uma das possibilidades será a de adicionar partículas que dêem maior resistência ao produto final, protegendo as superfícies pintadas de riscos ou de intempéries provocadas pelo clima, por exemplo. No campo das cores, estamos próximos de uma revolução. A adição de materiais nanoparticulados pode definir a cor do produto final sem a necessidade do uso dos pigmentos até hoje utilizados. No Japão, já está em prática a incorporação de nanopartículas de óxido de titânio na formulação de tecidos, o que evita a etapa posterior de tingimento.

Eletrônica e informática – As propriedades elétricas excepcionais de determinados materiais nanoparticulados os transformam em excelente matéria-prima para a fabricação de sensores, fios condutores, e dezenas de outros produtos do gênero. Entre eles, OLEDs (organic light emitting diodes) com espessura de folhas de papel e qualidade bastante superior ao das atuais telas de cristal líquido. “Essa técnica pode permitir o surgimento dos jornais eletrônicos, que substituirão os de papel e terão as notícias atualizadas via satélite”, profetiza Toma.

Na área de informática, as mais importantes multinacionais do setor investem milhões de dólares na pesquisa e desenvolvimento da nanotecnologia. Todos apostam que ela será fundamental para a manutenção do avanço exponencial ocorrido nos últimos anos na velocidade de processamento e na capacidade de memória dos computadores.

A doutora Barbara Jones, diretora de materiais e fenômenos magnéticos do centro de pesquisas da IBM localizado na cidade norte-americana de Almaden, esteve em São Paulo no último mês de julho para dar uma palestra por ocasião da realização do evento Nanotec2005, primeiro congresso internacional sobre o tema realizado no Brasil. Na ocasião, ressaltou que a presença de componentes com materiais nanoparticulados nos computadores não chega a ser novidade. “Alguns cabeçotes de leitura já contam com partículas de materiais com tamanhos que variam de dois a três nanômetros desde 1997”, conta.

Ela revela que essa presença deve se tornar muito mais significativa nos próximos anos. “Com o uso de elementos nanoparticulados obteremos circuitos e componentes ao mesmo tempo melhores, mais baratos e rápidos”, revela. Uma das possibilidades que estão sendo avaliadas é a substituição do silício, hoje componente obrigatório dos mecanismos presentes nos computadores, por nanotubos de carbono. “Os nanotubos apresentam uma série de vantagens, como melhores propriedades isolantes e maior transcondutância”, explica.

Barbara acredita que o investimento feito pelo setor de informática deve ser visto de forma otimista quando o assunto é a qualidade dos computadores do futuro. “Ninguém sabe ao certo para onde vamos, mas meu palpite é que será para um lugar muito interessante”, avalia. Ela acha perfeitamente possível que dentro de alguns anos os computadores tenham capacidade mil vezes maior.

Energia – O desejo de poder abastecer os veículos a partir da água não é nada novo. Mas só com o advento da nanotecnologia, esse sonho começa a se transformar em realidade. O segredo encontra-se no desenvolvimento das células a combustível, nome dado a baterias (pilhas) de funcionamento contínuo que convertem energia química em energia elétrica e térmica graças à alimentação constante de hidrogênio, elemento químico utilizado na operação como vetor energético. Vale lembrar que o hidrogênio pode ser obtido de várias formas, entre as quais ser retirado da água.

O uso comercial dessa célula era inimaginável até há pouco tempo, devido à necessária utilização de uma grande quantidade de platina em sua composição. Hoje, no entanto, já estão em testes dispositivos nos quais nanopartículas do metal nobre são colocadas sobre um suporte de negro de fumo, fator que reduziu os custos de produção do conjunto de forma drástica.

 

Muitos veículos movidos a hidrogênio já se encontram em funcionamento ao redor do mundo. E o Brasil deve lançar seu primeiro ônibus do gênero no próximo ano. O projeto, desenvolvido há alguns anos pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), conta com a colaboração do Ministério de Minas e Energia e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O avanço da nanotecnologia pode dar outra grande contribuição para a tecnologia das células a combustível. Um dos problemas da tecnologia é a atual forma de abastecimento, que exige a presença de cilindros contendo hidrogênio em elevada pressão nos veículos. Mas em vários países estão avançadas as pesquisas voltadas para a substituição de tais cilindros por recipientes que se utilizem de hidretos metálicos nanoparticulados que absorvem hidrogênio em sua forma sólida. A alternativa permitirá o armazenamento do vetor energético em recipientes muito menores e com pressões bem reduzidas, tornando o processo muito mais seguro.

A nanotecnologia também faz diferença quando o assunto é o desenvolvimento das chamadas cerâmicas avançadas.

Divulgação

Nanopartículas luminescentes são utilizadas em laboratórios para localizar tumor em cobaias

Até hoje, a transformação da energia solar em elétrica é uma solução considerada excelente do ponto de vista ambiental. Mas o custo elevado dos painéis que captam os raios solares têm impossibilitado a popularização da tecnologia. “O surgimento de células fotovoltaicas produzidas a partir de elementos nanoparticulados viabilizará economicamente a captação da energia solar. A Austrália tem conseguido muitos bons resultados com a experiência”, acrescenta Toma.

Medicina e saúde – O campo da medicina será um dos maiores beneficiados pelo desenvolvimento da nanotecnologia. De acordo com Toma, as descobertas vão atingir tanto a área de medicamentos, que devem se tornar muito mais eficientes, quanto na área de diagnóstico, onde novos métodos e aparelhos mais precisos e sofisticados serão projetados nos próximos anos.

A curto prazo, a maior vantagem para os pacientes encontra-se na maior capacidade dos princípios ativos serem absorvidos pelo organismo. “Hoje os remédios estão na escala micro e nessa dimensão, para que possam ser eficazes para combater as doenças, precisam ser aplicados em doses elevadas”, analisa Toma.

Em doses até 75% menores, os remédios nanoparticulados fazem efeito similar pois penetram com maior eficiência nos órgãos afetados. Além da grande economia, eles reduzirão de forma significativa os efeitos colaterais. O mesmo raciocínio vale para os modernos produtos cosméticos, muitos já no mercado, mais eficientes porque penetram na pele com maior facilidade.

 

Mas o grande pulo do gato, o “remédio inteligente”, deve chegar ao mercado daqui a cinco ou dez anos. Hoje os medicamentos são prescritos de forma que seu efeito seja sentido pelo paciente durante o transcorrer do tratamento.

As doses são ministradas pelos médicos a partir de avaliações sempre sujeitas a erros. “O medicamento inteligente será aplicado no paciente para que as doses sejam liberadas sempre no momento certo, quando o organismo do doente exigir”, revela o professor da USP.

A possibilidade de criar ímãs líquidos, a partir de nanopartículas de ferro, está próxima de se transformar em realidade industrial. Além de inúmeras outras aplicações, a novidade facilitará o tratamento de tumores de pele. “Eles permitirão maior eficiência e menor concentração na dosagem das radiações necessárias para a eliminação das células cancerosas”, explica Toma.

A evolução da diagnose deve proporcionar níveis de conforto às pessoas hoje pouco imagináveis. O Brasil pode se orgulhar de um feito assinado pela Universidade Federal de Pernambuco. Trata-se do desenvolvimento de um dosímetro com formato de crachá que, para prevenir o câncer de pele, mede de forma rápida e eficaz o índice de radiação de ultravioleta presente no organismo das pessoas. “O Japão tem estudos avançados para lançar cartões eletrônicos que podem ser utilizados em casa para medir os índices de açúcar e colesterol do organismo”, adianta.

A utilização de nanopartículas luminescentes fará com que a operação de localização de tumores se torne mais rápida e precisa. Um dos estudos concentra-se no desenvolvimendo de fórmulas que, ao serem ingeridas pelos pacientes, irão se concentrar na região tumoral, tornando-a identificável com maior facilidade. Algumas experiências do gênero são feitas em cobaias nos laboratórios.

De acordo com Toma, o que acontecerá com a medicina é um excelente paradigma do futuro que o desenvolvimento da nanotecnologia reserva para a humanidade. Para ele, o principal foco da química envolvida com a manipulação atômica e molecular deve ser o da melhoria da qualidade de vida.

“Até hoje a química evoluiu de forma caótica. Agora cabe aos cientistas trabalhar com inteligência, absorver os ensinamentos da natureza para desenvolver produtos que tragam o bem estar para todos”, analisa.

 

Cientistas nacionais colecionam patentes

Os cientistas brasileiros ligados à pesquisa e desenvolvimento da nanociência têm pelo menos uma boa notícia para comemorar. No final de agosto, o governo federal lançou o Programa Nacional de Nanotecnologia, que prevê um total de investimentos de R$ 71 milhões no biênio 2005/6. Apesar de pouco se comparado com outros países, os recursos serão destinados prioritariamente a projetos de jovens pesquisadores e à importação de equipamentos para laboratórios. 

Uma das ações mais amplas da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior do governo, o projeto envolve instituições do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), 70 universidades públicas e particulares, dezenas de empresas e mais de 1000 pesquisadores qualificados, entre doutores e estudantes de pós-graduação e graduação.

O programa é uma resposta do governo a uma preocupação demonstrada pela comunidade científica e pelos principais líderes empresariais brasileiros. A grande velocidade do avanço da nanotecnologia nos países ricos vai aumentar ainda mais o fosso existente entre as condições de vida dos países ricos e pobres. Há o temor generalizado de que o país, tradicional importador de produtos químicos sofisticados, no futuro se transforme em mero comprador de produtos dotados com componentes nanoparticulados.

Cuca Jorge

Microscópio de transmissão por feixe de elétrons do LNLS

Para impedir que isso ocorra, o MCT tem aumentado ano após ano os investimentos em pesquisas em nanotecnologia. Entre 2001 e 2002, foram investidos R$ 3 milhões, valor que aumentou para R$ 11,7 milhões em 2003.

Em 2004, os repasses para as pesquisas no segmento alcançaram R$ 14,6 milhões. Mas a primeira iniciativa do gênero do governo data de 1987, ano em que o CNPq investiu US$ 10 milhões na aquisição de equipamentos relacionados ao crescimento e caracterização de semicondutores para algumas dos principais institutos de pesquisa e universidades do pais.

A partir de 2001, sob a liderança do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), os estudos antes desenvolvidos de forma isolada pelo país foram agrupados em quatro redes nacionais, que agrupam os esforços de dezenas de instituições por temas diferenciados e com a meta de formar especialistas e desenvolver aplicações industriais.

As redes são a Nanosemimati, voltada para a pesquisa de nanodispositivos semicondutores e materiais nanoestruturados; a Renami, que tem como objetivo o estudo e desenvolvimento de materiais nanoestruturados, interfaces e dispositivos de nanotecnologia molecular; a Rede de Nanobiotecnologia, dirigida para pesquisas voltadas para o setor da saúde; e a Rede Nacional de Pesquisa em Materiais Nanoestruturados, voltada para o desenvolvimento de materiais com propriedades diferenciadas. Uma nova licitação promovida pelo MCT pode ampliar o número das redes para até dez. O resultado do processo deve sair até o final de outubro.

Empresários - Os empresários também se movimentam para evitar que o Brasil perca o bonde da história. Por ocasião da realização, em São Paulo, no último mês de julho, da Nanotec 2005, primeiro congresso internacional sobre o tema realizado no Brasil, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) assinaram uma carta que prevê a cooperação entre indústria, universidades e institutos de pesquisa para o desenvolvimento da nanotecnologia no Brasil.

De acordo com os signatários da carta, é importante para a indústria brasileira perceber o quanto antes a amplitude do impacto causado pelas soluções nanotecnológicas. “Nossa indústria precisa se inserir no novo contexto antes que fique muito defasada em relação aos parques industriais dos países desenvolvidos”, declarou na ocasião Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

Também devem ser lembradas algumas iniciativas tomadas por empresas privadas. A título de exemplo podemos citar o esforço da Braskem, que firmou convênios com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e com a Universidade Federal de São Carlos para em breve passar a oferecer compósitos de polímeros enriquecidos com nanopartículas de argila. Esforço semelhante realiza a Polibrasil, outra empresa do ramo de plásticos. “Os investimentos em nanotecnologia feitos pelas grandes multinacionais têm se multiplicado nos últimos anos. Se as empresas brasileiras não entrarem nesse processo agora vão se transformar em compradoras da tecnologia”, aposta Cláudio Marcondes, gerente de assistência técnica da empresa.

 

Cientistas nacionais colecionam patentes

Os cientistas brasileiros ligados à pesquisa e desenvolvimento da nanociência têm pelo menos uma boa notícia para comemorar. No final de agosto, o governo federal lançou o Programa Nacional de Nanotecnologia, que prevê um total de investimentos de R$ 71 milhões no biênio 2005/6. Apesar de pouco se comparado com outros países, os recursos serão destinados prioritariamente a projetos de jovens pesquisadores e à importação de equipamentos para laboratórios. 

Uma das ações mais amplas da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior do governo, o projeto envolve instituições do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), 70 universidades públicas e particulares, dezenas de empresas e mais de 1000 pesquisadores qualificados, entre doutores e estudantes de pós-graduação e graduação.

O programa é uma resposta do governo a uma preocupação demonstrada pela comunidade científica e pelos principais líderes empresariais brasileiros. A grande velocidade do avanço da nanotecnologia nos países ricos vai aumentar ainda mais o fosso existente entre as condições de vida dos países ricos e pobres. Há o temor generalizado de que o país, tradicional importador de produtos químicos sofisticados, no futuro se transforme em mero comprador de produtos dotados com componentes nanoparticulados.

Cuca Jorge

Microscópio de transmissão por feixe de elétrons do LNLS

Para impedir que isso ocorra, o MCT tem aumentado ano após ano os investimentos em pesquisas em nanotecnologia. Entre 2001 e 2002, foram investidos R$ 3 milhões, valor que aumentou para R$ 11,7 milhões em 2003.

Em 2004, os repasses para as pesquisas no segmento alcançaram R$ 14,6 milhões. Mas a primeira iniciativa do gênero do governo data de 1987, ano em que o CNPq investiu US$ 10 milhões na aquisição de equipamentos relacionados ao crescimento e caracterização de semicondutores para algumas dos principais institutos de pesquisa e universidades do pais.

A partir de 2001, sob a liderança do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), os estudos antes desenvolvidos de forma isolada pelo país foram agrupados em quatro redes nacionais, que agrupam os esforços de dezenas de instituições por temas diferenciados e com a meta de formar especialistas e desenvolver aplicações industriais.

As redes são a Nanosemimati, voltada para a pesquisa de nanodispositivos semicondutores e materiais nanoestruturados; a Renami, que tem como objetivo o estudo e desenvolvimento de materiais nanoestruturados, interfaces e dispositivos de nanotecnologia molecular; a Rede de Nanobiotecnologia, dirigida para pesquisas voltadas para o setor da saúde; e a Rede Nacional de Pesquisa em Materiais Nanoestruturados, voltada para o desenvolvimento de materiais com propriedades diferenciadas. Uma nova licitação promovida pelo MCT pode ampliar o número das redes para até dez. O resultado do processo deve sair até o final de outubro.

Empresários - Os empresários também se movimentam para evitar que o Brasil perca o bonde da história. Por ocasião da realização, em São Paulo, no último mês de julho, da Nanotec 2005, primeiro congresso internacional sobre o tema realizado no Brasil, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) assinaram uma carta que prevê a cooperação entre indústria, universidades e institutos de pesquisa para o desenvolvimento da nanotecnologia no Brasil.

De acordo com os signatários da carta, é importante para a indústria brasileira perceber o quanto antes a amplitude do impacto causado pelas soluções nanotecnológicas. “Nossa indústria precisa se inserir no novo contexto antes que fique muito defasada em relação aos parques industriais dos países desenvolvidos”, declarou na ocasião Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

Também devem ser lembradas algumas iniciativas tomadas por empresas privadas. A título de exemplo podemos citar o esforço da Braskem, que firmou convênios com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e com a Universidade Federal de São Carlos para em breve passar a oferecer compósitos de polímeros enriquecidos com nanopartículas de argila. Esforço semelhante realiza a Polibrasil, outra empresa do ramo de plásticos. “Os investimentos em nanotecnologia feitos pelas grandes multinacionais têm se multiplicado nos últimos anos. Se as empresas brasileiras não entrarem nesse processo agora vão se transformar em compradoras da tecnologia”, aposta Cláudio Marcondes, gerente de assistência técnica da empresa.

 

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